Há muito tempo que ando a pensar escrever acerca da qualidade e quantidade no sexo em termos de parceiros. Já reparei que muitas mulheres acham que a quantidade é inimiga da qualidade, como se não fosse possível ter as duas. Como não é a primeira vez que mulheres me levantam esta questão, e como recebi um mail de uma leitora a tocar no mesmo assunto, vou aproveitar para responder ao mail e falar da diferença de opiniões entre homens e mulheres de uma forma mais generalizada.
“Olá Luís
O que mais me intriga em ti é perceber porque preferes a novidade, a primeira experiência com alguém novo, a adrenalina da "caça", da descoberta de novos estímulos à cumplicidade, ao aprofundamento de um envolvimento, ao crescendo da intensidade que vem da nova interacção com a mesma pessoa. Percebi que já tiveste, em alguma fase da tua vida, a constância. Inferi que terá corrido menos bem, ou que, pelo menos, o desenlace não terá deixado vontade de repetir (talvez esta interpretação "selvagem" seja demasiado simplista, é-o seguramente). Mas, pelo menos para mim, tenho cada vez menos paciência para fingir que me satisfaz, que é bom, quando posso ter excelente, só porque é novo e me deu gozo a conquista... Prefiro usufruir do excelente quando me apetece.
Claro que esta tua atitude depois dá material para muitas histórias de encontros... E tu sabes descrevê-las muito bem e até apimentá-las. Mas o que me intriga é o homem por detrás dos seus actos...
Abraço”
Resposta ao mail:
"Olá Ana
Eu não prefiro a quantidade em detrimento da qualidade. O que acontece é que tenho o melhor de dois mundos. Tenho muita qualidade e também tenho muita quantidade. Aliás, para mim e para a maior parte dos homens, a quantidade faz parte da qualidade. Eu explico melhor. Para a minha sexualidade ser de qualidade, eu preciso ter por um lado uma ou mais mulheres com quem mantenho um relacionamento continuado, e com quem vou aprofundando e evoluindo em termos da qualidade do sexo, do envolvimento emocional, da cumplicidade e da confiança, e por outro ter o prazer da caça, da adrenalina do desconhecido e da aventura. A minha sexualidade nunca será de qualidade se me faltar uma destas vertentes. Esta segunda vertente, nunca me poderá ser dada pelas mulheres que já conheço, por muito bom que seja o sexo, e por muito que goste delas. Para mim e para a maior parte dos homens, variar faz parte da qualidade no sexo.
Ao longo da minha vida, sempre tive uma ou mais mulheres com quem mantive relacionamentos continuados, com sexo de muita qualidade, com cumplicidade, e até com amor, que duraram anos, e nalguns casos muitos anos mesmo. Nunca senti carências afectivas ou sexuais, e muito raramente me desiludi com as mulheres.
Paralelamente a isto, e principalmente nos últimos 10 anos, e com a facilidade dos conhecimentos anónimos através da net, vou tendo o prazer da caça, de experimentar a novidade, a adrenalina do desconhecido, de conhecer mulheres, de aprender, de experimentar novos corpos, novas parceiras e jogos sexuais. Como a qualidade do sexo depende muito mais de mim do que da mulher, consigo ter um sexo muito bom ou pelo menos muito satisfatório com a maioria das mulheres com quem me embrulho. Como eu costumo dizer, não há sexo mau… há bom, muito bom e excelente.
Também não ando a caçar para escrever histórias, a coisa processa-se ao contrário. A ideia de escrever o livro, e publicar os meus relacionamentos sexuais fortuitos, surgiu com o objectivo de mostrar a quem me quiser ler, a forma como a internet veio alterar os relacionamentos entre homens e mulheres, especialmente no campo sexual, e claro, tornar a sociedade mais aberta, mais informada, menos hipócrita, e em que cada um de nós possa viver a sua sexualidade de forma desinibida e descomplexada.
Bigada pelo teu mail…
Abraço"
Em relação a uma reflexão mais generalizada do tema, e aceitando que há sempre excepções e muita relatividade nestas generalizações, estes dez anos de convivência intima e sincera com pessoas de faixas etárias e motivações distintas, ajudaram-me a formar uma opinião fundamentada acerca das diferenças de pensamento, sensibilidade, motivação e expectativas de ambos os sexos em matéria de relacionamentos continuados e ocasionais. Não é fácil escrever acerca do tema pela sua complexidade e relatividade, mas vou tentar expor alguns aspectos que sinto serem mais relevantes.
As motivações e expectativas dos homens e das mulheres em relação ao sexo são muito diferentes, e em ambos os sexos, a idade, a vivencia e a personalidade de cada um, determina o seu posicionamento face à sua sexualidade.
Os homens, independentemente de terem ou não alguém que gostem, que amem, e com quem tenham um sexo que os satisfaça plenamente, têm necessidade de variar, de caçar, de seduzir, e de ter sexo com diversas mulheres. A net veio facilitar os encontros anónimos, e os homens aproveitam esta nova forma de engatar, por ser fácil, confidencial e descomprometida. Há muitos mais homens com esta vontade e necessidade do que as mulheres imaginam, porque eles com medo que as parceiras exijam o mesmo, não assumem esse tipo de comportamento. Os homens comprometidos assumem-se sempre fiéis, e escondem as escapadelas, para poderem exigir fidelidade às suas companheiras. A verdade é que maior parte dos homens são bígamos e infiéis, e conseguem sê-lo mesmo amando uma mulher, e estando sexualmente satisfeitos com as suas parceiras.
Se um homem não tem ninguém que ame, ainda pode estar aberto a se apaixonar e construir um relacionamento mais sério no decorrer dos seus engates da net, mas se é casado ou tem alguém de quem goste verdadeiramente, o interesse dele é simplesmente dar uma queca numa gaja. Se gostar muito pode repetir mais vezes, mas na generalidade acaba por saltar para outra, é apenas uma questão de tempo. Um homem que seja obrigado a ser fiel, não é um homem satisfeito sexualmente, mesmo que a sua parceira seja a melhor queca de todas. A generalidade dos homens é fiel de livre vontade, apenas enquanto estão apaixonados, e durante um curto período de tempo.
Como a maioria dos homens lideram e são activos nos encontros sexuais, acabam por fazer o que gostam, e por isso um encontro sexual com uma desconhecida é sempre gratificante e prazeroso. Para um homem ter prazer e gostar do sexo com uma mulher, basta que ela tenha um corpo fixe, uma coninha, mamas, e que lhe faça as vontades. Ele come-a, vem-se e está satisfeito. Dizendo de outra forma, os homens gostam de engatar e papar mulheres porque para eles é sempre bom. Se há mais homens do que mulheres dispostos a encontros sexuais com desconhecidos, é porque há mais homens do que mulheres a ter prazer neste tipo de encontros, obviamente.
Apesar de haver mulheres parecidas com os homens em termos de motivação sexual e que consigam ter prazer numa queca com um desconhecido, a generalidade das mulheres não tem essa facilidade. As mulheres são seres mais complexos, com especificidades muito próprias e sensibilidade apurada, e precisam de muito mais do que apenas um piço para enfiar na coninha. Para as mulheres, (que vão pelo sonho) a motivação destas quecas fortuitas com desconhecidos, tem o objectivo de encontrar o tal especial, aquele pelo qual se possam apaixonar, ou pelo menos com quem possam ir construindo uma relação continuada de cumplicidade e confiança, mesmo que se trate apenas de sexo.
A maior parte das mulheres que se aventuram nestes encontros sexuais, sentem que não foi gratificante para elas em nenhum aspecto. É por essa razão que são muito mais exigentes na procura do homem, e quando encontram um que lhes agrade, preferem aprofundar a cumplicidade e a qualidade da relação, porque para elas o sexo só começa a ser bom quando já têm a desinibição, confiança e envolvimento emocional suficientes para sentirem prazer com esse homem. Como o interesse dos homens na maior parte das vezes é dar uma queca e saltarem fora, as mulheres sentem-se enganadas, usadas, e com problemas de auto-estima.
Resumindo, quando um homem e uma mulher que não se conhecem, se encontram para ter sexo, na grande maioria dos casos ele gosta muito, e ela não gosta nada. Isso faz com que os homens procurem encontros com desconhecidas, e elas não só não estejam praí viradas, como pensem e com razão, que a quantidade não é qualidade. Se à má performance dos homens, muitas vezes devido ao egoísmo, egocentrismo e falta de jeito, juntarmos o facto de eles normalmente ficarem possessivos, ciumentos e controladores, percebe-se perfeitamente o cuidado e a hesitação que uma mulher tem em se aventurar neste tipo de encontros sexuais.
Para além do que já foi dito, ocorrem-me mais dois factores que fazem a diferença de pensamento e forma de agir entre homens e mulheres em termos sexuais.
O primeiro, prende-se com o velho preconceito da sociedade, em que um homem que engata muitas mulheres é um conquistador, e uma mulher que engata muitos homens é uma ganda puta. Embora este preconceito esteja cada vez mais ultrapassado, o facto é que está muito enraizado na nossa cultura.
O segundo, dizem os especialistas, é mesmo genético. De acordo com esta teoria, que até faz sentido, enquanto que as fêmeas que geram os filhos no seu interior, têm a certeza de que a cria que transportam é sua, procuram um macho dominante (homem bem sucedido) para partilhar com elas a responsabilidade de criar e cuidar da sua cria, os machos, que não têm a certeza de que a cria que determinada fêmea transporta seja sua, procuram cobrir o maior numero possível de fêmeas para terem a certeza que deixam descendência. Isto é válido para praticamente todo o reino animal, incluindo o homem, que apesar de ser um animal racional, também tem esta programação genética.
xarmus